terça-feira, setembro 12, 2006

Monólogos

Demorámos meia hora para sair da escola. Eu demorei meia-hora a conseguir arrancá-la do colégio. Tem de experimentar sempre todos os carros, todas as motas, todos os escorregas, todos os brinquedos, entrar em todas as salas. Fugir, fugir, fugir. A minha paciência ontem não era das melhores. Este calor irrita-me cada vez mais. Odeio estar permanentemente a destilar. Odeio ter a roupa colada ao corpo. Odeio a moleza que isto me faz sentir. Odeio acordar de noite a escorrer água. Odeio ver a miúda com o cabelo sempre como se tivesse acabado de tomar banho.

Chegámos a casa, não queria sair do carro. A conversa não funciona, vai à força. Menos mal, não rabujou. Queria ser ela a marcar o código da porta. Claro que não teve força para todos os números, mais uns minutos perdidos. Ela ao colo para não se pirar. Mais a minha mochila, mais a mochila dela. Mais um saco. Mais as chaves na mão. Mais este calor pegajoso a tirar-me do sério. Estou tão cansada que só me apetece dormir.

Entramos no elevador (ela carrega no botão para o puxar) Betão vadoi mãe

Já no nosso andar: Dá cá isso mãe (aponta as chaves)

A Pipa abi (mas sou eu que abro a porta, claro que ela não consegue)

Ela já no chão empurra a porta - Poi entar mãe como quem diz "entra"

Já lá dentro empurra a porta para a fechar - Pota chada mãe

Isto tudo sem eu dizer uma palavra. Ela deita os foguetes, apanha as canas...

Eu só queria dormir. Mas ela ainda conseguiu fazer mais umas asneiras daquelas que já repetimos vezes sem conta que não deve fazer, como abrir a torneira do bidet e molhar o chão todo (nunca vi ninguém gostar tanto de água!), que me fizeram dar-lhe uma palmada. A primeira a sério. E estava sem fralda. Rabo ao léu. Saiu com mais força do que eu tinha imaginado. Ficou com os dedos marcados. Chorou, chorou, chorou baba e ranho. Mas veio agarrar-se a mim. Claro que não vale a pena dizer que também me custou. Explodi, pronto. Acontece. Não sei se foi o suficiente para não voltar a repetir. Acho que não. Mas ela sabe bem o que não deve fazer. Tanto é que se chega ao pé das coisas e repete "Não meixe Pipa" com ar de desafio. Há dias que aquela energia toda me deixa esgotada, cansada e sem paciência nenhuma. Até na escola ontem me perguntaram como é que eu consigo fazer alguma coisa em casa se ela não pára um segundo (só quando está a ver desenhos animados, aí tenho uns minutos de tréguas).

Queria tanto dormir!

4 comentários:

Anónimo disse...

Há dias assim!!! Ser mãe é isso mesmo. E é normal que por vezes a paciência se esgote, pois não somos só mães e não temos que ter paciência só para eles...
Beijos grandes

Inês disse...

Livra!!! Acredito que há dias que não há pachorra para nada e a tua miúda nem tem nada ar de ser fresquinha, nãããã. Essa dela se por ao pé das coisas a dizer "não mexe pipa" diz tudo. :) Tens de te ir aguentando.
Beijocas

Morena disse...

Eu se fosse a ti tomava uma banhoca de água fria! Não sei é se ela não quereria ir ctg! eheheh
Beijinhos grandes

turbolenta disse...

Isso é um "teste" à tua paciência de mãe.
São todos iguais.. Todos nos querem experimentar. Mas...às vezes... já não há pachorra para o género!!.
BJS. Felicidades